segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Histórico e definições de Agroecologia

As práticas agrícolas e agroecológicas, tradicionais de nossos antepassados são hoje taxadas de ultrapassadas, antigas, sofrendo menosprezo pelo capitalismo. No entanto, não podemos nos esquecer que estas eram adaptadas para cada região, cultura e solo, que de certa forma podemos reconhecer como manejo agroecológico, uma vez que tinham preocupações intuitivas com os aspectos ambientais, sociais e econômicos, aspectos esses, que se identificam com a sustentabilidade do sistema agrícola produtivo. O manejo agrícola, apesar de ser rústico, baseava-se em conhecimentos e experiências usadas de longa data. Os ecossistemas eram manejados a partir de práticas adaptadas a cada microrregião. Portanto, observamos que o manejo agroecológico data, segundo Hecht, (2002), dos anos 70, mas a ciência e a prática agroecológica têm a idade da própria agricultura. Temos o exemplo da agricultura indígena, a qual utilizava mecanismos para adaptação das culturas às variações ambientais e proteção das mesmas contra predadores e competidores.
Nesses moldes agrícolas, de base agroecológica, eram envolvidos outros recursos além da cultura comercial, ou seja, era um manejo que visava estabelecer uma harmonia entre os riscos ambientais e econômicos a fim de manter a base produtiva através dos tempos. Esses sistemas de produção incluem infra-estruturas como terraços, valas e equipamentos para irrigação, localmente desenvolvidos (HECHT, 2002).
As atividades agrícolas, desde sua origem, envolviam simbologias e rituais que serviam para controlar as práticas de uso da terra e para codificar os conhecimentos agrários do povo que não conhecia a escrita. A influência da lua, dos astros, a maneira de plantar e cultivar uma determinada cultura eram observados rigorosamente. Na Idade Média, sobretudo no tempo da Inquisição, estes rituais foram proibidos por serem interpretados como feitiçarias. Seus executores sofriam perseguições até que deixassem de lado tais práticas (idem, 2002).
No Brasil, com a invasão dos espanhóis e portugueses, outros costumes, crenças e atividades agrícolas foram introduzidos, começando, então, uma grande mudança no manejo e cultivo do solo. Em primeiro lugar, fizeram dos indígenas, mão-de-obra escrava, obrigando-os a trabalhar e cultivar a terra da sua maneira. Além disso, trouxeram doenças que dizimaram as populações locais, morrendo também os sistemas culturais de conhecimento e de produção (idem, 2002).
Com o passar do tempo, a escravidão indígena foi substituída pela africana, pois estas eram tidas como a melhor força de trabalho. A agricultura passou a ser sustentada pela escravidão africana, fazendo com que a atividade agrícola se restringisse às lavouras de cana-de-açúcar e algodão. Ao mesmo tempo em que aumentavam as plantações destas duas culturas, a agricultura e seus trabalhadores locais se retiravam para áreas distantes a fim de evitar a escravidão. Com este fenômeno, houve a perda das bases culturais da agricultura indígena local e a perda da posse das terras, iniciando assim um modelo agrícola importado, favorecendo apenas as necessidades de alguns poucos exploradores e expulsando das terras seus verdadeiros donos, aqueles que conheciam a terra e suas aptidões (idem, 2002).
Esta transição dos parâmetros locais substituiu uma visão orgânica e viva da natureza por uma abordagem mecânica e reducionista. Introduzindo cada vez mais uma linguagem científica, rejeitando as outras formas de conhecimento. Consequentemente, os conhecimentos, habilidades e simbologias do homem rural foram ignoradas e depreciadas.
Conforme Kuhn (apud, HECHT, p.25) a partir deste histórico, pode-se perguntar como a Agroecologia ressurgiu. A “redescoberta” da agroecologia surgiu a partir dos impactos das tecnologias atuais, onde os avanços importantes no entendimento da natureza resultam da decisão de cientistas em estudar o que os agricultores haviam aprendido a fazer, é uma volta às raízes do conhecimento sobre o manejo de solos e o resgate destas práticas, incluindo novas práticas que possibilitem a conservação dos recursos existentes a fim de obter um desenvolvimento, a partir daquilo que existe.
Como afirma Primavesi (2002, p.523) “desenvolver significa melhorar o existente”, portanto, o desenvolvimento deve ser sustentável, levando em conta todos os níveis de relações existentes e principalmente adaptadas ao local onde estão inseridas.
 Definição de Agroecologia
O termo agroecologia é muito utilizado e possui várias definições, como: “agricultura sem agrotóxicos”, “agricultura orgânica”, “agricultura alternativa”, mas, conforme Hecht (2002, p.26):
Agroecologia geralmente representa uma abordagem agrícola que incorpora cuidados especiais relativos ao ambiente, assim como aos problemas sociais enfocando não somente a produção, mas também a sustentabilidade ecológica do sistema de produção... Num sentido mais restrito, agroecologia refere-se ao estudo de fenômenos ecológicos que ocorrem na produção agrícola, tais como relações predador/presa ou competição cultura/vegetação espontânea.
O termo agroecologia é formado da junção de duas palavras: “Agro” que vem de agricultura, manejado pelo ser humano e “ecologia” que, conforme Primavesi (1997, p.130) deriva da palavra grega “oikos” que significa lugar, trabalha interligado com os sistemas naturais de um dado lugar; incluindo solo, sua vida, estrutura, água, minerais, declividade e até a atividade humana. Ecológicos são os ciclos e equilíbrios naturais de um lugar, em que o homem pode estar incluído. Sendo assim, um desenvolvimento ecológico e sustentável deverá ser buscado para garantir às futuras gerações a capacidade de produção e sobrevivência.
Quando se pensa em agroecologia, logo vem à mente uma agricultura sem uso de agroquímicos, mas ela é mais ampla, possui uma abordagem social, cultural, econômica e ecológica, e desta maneira, estuda as inter-relações existentes entre todos estes fatores.
Conforme Norgaard e Sikor (2002, p.53), a agroecologia leva em conta tanto o sistema agroecológico como o social, no qual trabalham os agricultores, dá relativamente pouca ênfase às pesquisas realizadas em centros experimentais e laboratórios, priorizando os experimentos nas propriedades, além de ser mais aberta à participação dos agricultores no processo de pesquisa.
A ciência agroecológica é construída em conjunto com a sociedade agrícola, não se restringindo aos meios acadêmicos e não se impondo como uma verdade única e universal. Para Moreira e Carmo (2004), a agroecologia, como abordagem científica e popular, repousa sobre um marco teórico e metodológico que questiona justamente a verdade científica universal. Portanto, podemos afirmar que a agroecologia deve ser construída em conjunto e para que isto se torne possível, faz-se necessário que todos os setores envolvidos tenham vontade política para colocar esta ciência em prática.
A política agrícola moderna evoluiu muito, mas ainda está restrita às técnicas descritas em teorias, sem levar em conta a verdadeira aptidão das diferentes regiões. Alicerçadas e construídas a partir de modelos importados e práticas inadequadas, tais políticas cooperam para o processo de degradação ambiental, cultural, econômico e social.
Os agricultores sofrem com a marginalização econômica, política, cultural e ecológica. As políticas, os preços e os serviços agrícolas governamentais favorecem os grandes produtores. Os interesses dos pequenos produtores não estão adequadamente representados no processo político, sendo conduzidos às terras frágeis, limitando a produção, fazendo com que estes agricultores caiam num círculo vicioso e destrutivo do ambiente que os mantém, imitando as práticas dos médios e grandes agricultores (HECHT, 2002).
Neste contexto observa-se que o modelo de transferência de tecnologia provocou a acentuação das disparidades sociais, exacerbando difíceis situações políticas.
No entanto, a ciência agroecológica pode ser melhor descrita como uma abordagem que integra concepções e métodos de diversas outras áreas de conhecimento e não como uma disciplina específica. A pesquisa na agroecologia concentra-se em temas centrais da agronomia, mas, dentro de um contexto mais amplo, que inclui variáveis ecológicas e sociais (HECHT, 2002, p.31). A agroecologia é uma ciência ainda em construção, essa deve ser participativa, incluindo todos os atores (pesquisadores, agricultores, empresários, políticos), portanto, exige que se faça uma análise detalhada das condições locais, a fim de evitar que sua atuação seja reducionista e muito técnica.
A agricultura ecológica não trabalha somente com as plantas, mas com o sistema inteiro solo-planta-clima. Trabalha de maneira holístico-sistêmica. Holístico vem da palavra inglesa “whole”, inteiro. Quem trabalha holisticamente maneja ciclos e equilíbrios (PRIMAVESI, 1997, p.142).
Manejar os sistemas de forma sustentável, introduzindo métodos naturais de controle de pragas e doenças, manejo de plantas invasoras e não a sua eliminação, permitindo assim, que haja presença de inimigos naturais que estabeleçam o equilíbrio necessário para a produção, estas são algumas das formas que podem ser utilizadas para que o sistema tenha uma produtividade por um longo período.

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